Tambos

O que nos deparamos ao andar pelas paragens da “Serra do Quiriri” são vestígos de possíveis “tambos”, (Quechua: tampu), que em períodos do povo Inca eram estruturas administrativas, militares ou pontos de abastecimento e repouso.
Uso desse exemplo, somente para ilustrar essas antigas estruturas, que nessa determinada região, provavelmente, serviam de estações de pouso para tropeiros ou jesuítas. Mas, teriam sido construídas por estes ou seriam ainda mais antigas?
 
Construções usando taipas de pilão, feitas com argila, galhos e varas prensados, eram comuns no Brasil colonial. Currais de pau-a-pique parecidos também costumavam ser utilizados para marcação de gado, conforme conta o autor uruguaio Aníbal Barrios Pintos em seu livro “De las vaquerias al alambrado” (Ediciones Del Novo Mundo, 1967). No Uruguai e em Santa Vitória do Palmar (RS), alguns desses círculos cercados de árvores, já citados em 1820 por Auguste Saint-Hilaire, foram documentados como “currais de palmas”.
André Prous relatou em seu livro “O Brasil antes dos brasileiros” (Jorge Zahar Editor, 2006) que as formas geométricas escavadas no território acreano, “muito parecidas com as assinaladas no Rio Grande do Sul, associadas à Cultura Taquara/Itararé, são em geral interpretadas pelos arqueólogos como estruturas defensivas e apresentam um fosso largo”, referindo-se àquelas já estudadas no norte/nordeste do estado. Esses sítios arqueológicos classificados como “estruturas anelares” têm entre 20 e 170 metros de diâmetro e também existem no Paraná, em Santa Catarina e até na Argentina.


 
Estruturas semelhantes a estas que evidenciamos na Serra do Quiriri em Santa Catarina estão sendo descobertas em Alta Floresta do Oeste, zona da mata de Rondônia/AC.

A cada visita de estudiosos ao local surgem mais evidências de que foram as mãos do homem que edificaram muros e muretas no entorno das huacas e das pirâmides na Zona da Mata de Rondônia. No dia 18 de junho, por exemplo, uma equipe de pesquisadores visitou o muro de arrimo da Fazenda Central Modas, na Linha 100 do Distrito de Filadélfia, em Alta Floresta do Oeste, a 415 quilômetros de Porto Velho/RO.
 Foto: Joaquim Cunha

Em análise preliminar, o geólogo Ivan Bispo, do Serviço Geológico do Brasil, diz acreditar que as pedras de arenito do muro de arrimo foram ali colocadas por mãos humanas. “Devido a sua formação de arenito e a distância do local aonde poderiam ter roladas naturalmente seria impossível ter acontecido, pois se esfacelariam”, explicou.
                                                                   Foto: Joaquim Cunha
                                                                    Foto: Joaquim Cunha
Trecho de entrevista cedida a Dalton Delfini Maziero pelo pesquisador Roland Stevenson:
Em 1977 comecei as pesquisas no Alto Rio Negro, onde fomos em busca das fortificações de pedras a que alguns escritores se referiam, a exemplo de Barbosa Rodrigues. Conseguimos localizá-las através de guias indígenas. Tratava-se de restos de muros de pedras que os nativos brasileiros não costumam utilizar, tornando-se para nós um grande mistério, pois seus vestígios achavam-se invariavelmente a cada 20 km, situados paralelamente à linha equatorial, cerca de uns 60 km. O enigma começou a se desvendar quando achamos próximo de uma delas o petroglifo de uma lhama, animal de carga dos povos andinos. Ao estudar as características deste camelídeo, reparamos que ele caminha somente 20 km por dia, negando-se a continuar além disso. Então, as fortificações eram pousadas de descanso dos viajantes, dispostas em função do rendimento das lhamas. Tratava-se evidentemente de um caminho extinto, apagado pela floresta, exceto os Tambos como chamam as pousadas no Peru. Em contato com diversas tribos da Bacia do Uaupés, ouvimos as lendas a respeito deste caminho, contada pelos velhos de boca em boca através das gerações. Curiosamente todos os grupos indígenas coincidiam com a mesma narrativa, especialmente entre os Dessana, Pirá-tapuya e Tukano, chamando-a de Nhamíni-wi. Explicavam ser um grande caminho que alcançava as montanhas dos Andes, ou a "casa da noite", onde obscurece o sol. Por ele transitavam numerosos "soldados", carregando pesadíssimas caixas contendo "insetos de ouro". Tais caixas não podiam ser abertas porque eram oferendas para que o sol não apagasse. Mas os índios desobedeceram abrindo-as, e o sol se apagou durante vários dias.

        Petróglifo na Serra do Quiriri próximo a possíveis Tambos. Foto: Grupo de Estudos Manoa

 
                                                               Foto: Grupo de Estudos Manoa

Conforme alguns relatos recolhidos com antigos moradores da região, os mesmos já chegaram a presenciar alguns tambos, ou ruínas destes, construídos próximos a araucárias, que já são completamente extintas nas paragens. 

                                                                             Foto: Dagoberto Muller (1950/60)
 
                                                                             Foto: Dagoberto Muller (1950/60)
 

                                                              Foto: Dagoberto Muller (1950/60)

Contam ainda que, seus avós e bisavós já diziam que eram ranchos de repouso a tropeiros ou comerciantes que por ali passavam a noite, para na manhã seguinte ir adiante, ou usavam as estruturas para se abrigar das tempestades. Acrescentam que muitos artefatos de metal já foram encontrados próximos a estas ruínas de pedra, onde geralmente, o que sobrou a superfície é o fundamento das estruturas.

Foto: Grupo de Estudos Manoa

 
  Foto: Grupo de Estudos Manoa



                                                                         Foto: Grupo de Estudos Manoa



Guiados sempre por aquele singular caminho, velha estrada do planalto ao litoral, algures, a mais de duas horas do acampamento, (...) Ganhando altura, em mais meia hora estávamos a 1250 metros, no pico por nós chamado 5 de Junho, dominando vasta região. Naquele ponto, nos separamos, a turma voltou e eu prossegui, agora a sós, movido pelo desejo de encontrar o caminho para o pequenino rancho dos vaqueanos, no grande vale, bem no meio das montanhas. Subindo, sempre após a travessia do rio dos Alemães (onde, segundo a lenda, morreram dois alemães, por ocasião de forte nevada) atingi naquele dia, o ponto máximo de acordo com o altímetro, ou sejam, 1.350 metros, descortinando então o meu objetivo – o velho rancho solitário, batido pelas intempéries, prestes a desabar! Caminhei ao seu encontro e a sombra do velho ranchinho, imaginei quantas histórias aqueles muros de pedra não puderam contar! Assim, absorto em devaneios sobre o passado, de repente, notei que a tarde estava avançando. (Fonte: Pelos Caminhos da Serra..., Escrito por “Dagoberto Mueller”. Boletim informativo nº15 Julho/Setembro de 1960, do Centro Excursionista Monte Crista – C.E.M.C.).

                                                       Foto: Dagoberto Muller (1950/60)

“Tambos” também são descritos no livro A Argentina Manuscrita, cap IX, de Ruy Diaz Guzman, (1512 ?) com sua primeira reedição em 1836.
 
Nossos trabalhos continuam na região, mas de forma lenta, devido ao difícil acesso as localidades e intempéries, como fortes tempestades e ventos que assolam as extensas paragens da Serra do Quiriri.




Fotos: Grupo de Estudos Manoa
Fotos: Dagoberto Muller (cedidas do arquivo pessoal do Prof. Olavo Raul Quandt)
Fotos: Joaquim Cunha

http://www.eldorado-paititi.blogspot.com/
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/geoglifos-gauchos
http://arqueologiamericana.blogspot.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Tambo

Provincial Power in the Inka Empire. by Terence N. D'Altroy. 1992
The Wired Professor (2008). "A History of Information Highways and Byways". 
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história de nosso país. Rio de Janeiro : J. Zahar, 2006. 141 p, il.


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