Caminhos Históricos

Ambrósios



... Não é o campo do Ambrósio um simples campo relvado; antes uma região onde se alternam campinas, matas e depressões pantanosas, com o que ganha expressão de isolamento e abandono, normalmente antes de começar a primavera, quando a reiva murcha ainda não foi renovada e o gado emagrecido pelo inverno ainda se açoita na mata em exemplares pouco numerosos....


...Chama-se Chico de Oliveira o coletor de impostos da fronteira, cobrados sobre animais de casco e de unha conduzidos da província do Paraná para Santa Catarina. Precisamente em frente de sua casa se bifurca o caminho, de um lado para Curitiba, rumo ao norte, e do outro para Três barras, rumo ao Sudeste...

Robert Avé -Laallemant-Viagens pelas Províncias de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. (1858)

Era chamado Caminho dos Ambrósios, a última etapa a se vencer da penosíssima estrada que cortava a serra do mar e levava os viajantes que vinham de São francisco do Sul e Joinville,a vila de Curitiba. Esse caminho colonial que hoje se encontra em grande parte no território do município de Tijucas do Sul, testemunhou a saga dos desbravadores e colonizadores da região de divisa dos estados do Paraná e Santa Catarina. Segundo alguns documentos a referida estrada foi aberta em 1762 quando se deu o estabelecimento dos primeiros moradores da região. Mas é provável que o caminho tenha sido aberto seguindo-se um roteiro de uma via mais antiga, utilizada primeiramente pelos povos indígenas , e depois por bandeirantes e jesuítas durante os ciclos do ouro e da erva mate. Os vestígios do caminho atestam a riqueza histórica que deve ser estudada e preservada como patrimônio cultural do Brasil. Além de presenciar a saga do bandeirantismo e tropeirismo no sul do Brasil, o caminho dos Ambrósios foi palco de inúmeros acontecimentos que marcaram a história do sul do Brasil como a Guerra do Contestado e a Revolução Federalista.

                       Mapa pesquisado pelo historiador Dr Júlio Estrala Moreira 
do livro (em dois volumes) Caminhos das Comarcas de Curitiba e Paranaguá com anotações do pesquisador Henry Henkels.



Tropeirismo na Serra do Mar
                                 Foto de Dagoberto Muller-1960

Os caminhos coloniais da serra do mar presenciaram e guardam importantes vestígios da história do Tropeirismo no sul do Brasil. Do antigo rancho dos Tropeiros também conhecido como tambo da Serra do Quriri em Garuva, norte de Santa Catarina, restam apenas alguns amontoados de pedras espalhados em um pequeno vale dos campos de altitude . O botânico catarinense Pe. Raulino Reitz que catalogou várias espécies de plantas na região, testemunhou na década de 50 os últimos momentos do tropeirismo no Quiriri conforme é descrito em um de seus relatos:
"... Em seguida, vê-se o rancho dos tropeiros, somente habitado em dias de rodeio de gado."
Também o montanhista Dagoberto Muller do antigo Centro excursionista Monte crista de Joinville relatou e fotografou o antigo rancho:

"...Subindo, sempre após a travessia do rio dos Alemães (onde, segundo a lenda, morreram dois alemães, por ocasião de forte nevada) atingi naquele dia, o ponto máximo de acordo com o altímetro, ou sejam, 1.350 metros, descortinando então o meu objetivo – o velho rancho solitário, batido pelas intempéries, prestes a desabar! Caminhei ao seu encontro e a sombra do velho ranchinho, imaginei quantas histórias aqueles muros de pedra não puderam contar! Assim, absorto em devaneios sobre o passado, de repente, notei que a tarde estava avançando."

Segundo as informações coletadas junto aos antigos moradores da região do Alto Quiriri, o referido rancho que teria sido destruído a cerca de 20 anos atrás pelo antigo proprietário da fazenda Quiriri, teria sido construído a aproximadamente 200 anos atrás. Mas em uma campina de um morro próximo, teria existido um rancho ainda mais antigo conforme atesta a história oral.
                                           Vestígios históricos do antigo rancho dos tropeiros 

Fontes:
Pelos Caminhos da Serra..., Escrito por “Dagoberto Mueller”. Boletim informativo nº 15 Julho/Setembro de 1960, do Centro Excursionista Monte Crista – C.E.M.C.
Botânicos no Bi-secular caminho velho- Pe Raulino Reitz-1960.
O Caminho do rio Três Barras- texto escrito por Henry Henkels em 2001.
Wlademir Vieira- Grupo de Estudos Manoa



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