O Registro Rupestre como Documento Pré Histórico

           
              Arte Rupestre, registro rupestre, arte parietal, grafismos, iconografias pré históricas, seja qual for o termo adotado, todos remetem as pinturas encontradas em grutas e cavernas e nos paredões rochosos expostos. Os materiais utilizados para colorir e fixar essas pinturas geralmente se constituíam de pó de rochas, carvão vegetal, excrementos, látex de plantas, substâncias geralmente gordurosas que serviam de base para uma mistura homogênea. Mistura essa que mantém as pinturas na superfície de seu suporte rochoso, algumas por mais de 20 mil anos.
             Através dos estudos destes registros, deixados pelas sociedades pré-históricas, é possível analisar vários fatores que elucidam como estes homens viviam. Amostras retiradas das pinturas e análise em laboratório juntamente com áreas afins da Arqueologia, como a arqueologia experimental, procuram desvendar quais misturas eram utilizadas para formar os pigmentos utilizados no feitio dos registros, e com estas mesmas amostras podem ser estimadas as datações aproximadas da sua existência nas rochas, com o uso do carbono 14.
(...)
            Segundo PROUS (1992) e BELTRÃO (1978) os sítios arqueológicos encontrados no Brasil e que possuem gravuras e pinturas, não são descobertas de merecimento apenas do século XX:


As figurações rupestres são mencionadas desde o século XVI: o governador da Paraíba, Feliciano de Carvalho, encontrou em 1598 no rio Ar açaí gravuras rupestres cuja localização exata foi verificada recentemente. [...] na mesma época bandeiras paulistas encontravam a pedra dos Martirios em Goiás. Poucos anos depois o capucchino francês Yves d’Evreux reproduz o discurso de um pajé indígena que provavelmente faz referencia a gravuras do Maranhão. Alguns painéis foram reproduzidos por naturalistas do inicio do século XIX.
(Prous, André. Arqueologia Brasileira. 1992, p.509).

            No Brasil obtêm-se as primeiras informações sobre os registros rupestres ainda nos relatos de André Thevet, um francês da ordem dos franciscanos, que a convite de Nicolas Durand, também um francês e que possuía interesse em ter uma colônia no Brasil, o acompanhou nessa expedição como seu relator. Em um texto elaborado por Maria da C. de M. C. Beltrão , consta um trecho do relato de Thevet quando chegou em Cabo Frio com os demais comendadores franceses interessados em situar uma colônia:



"(...) o morubixaba, que assim tratou a todos, conduziu os franceses até uma grande e comprida pedra, de cerca de cinco pés, na qual se viam sinais feitos por golpes de vergasta, ou bastonetes, ao lado da impressão de dois pés. Afirmam os silvícolas que esses sinais foram feitos pelo maior de seus caraíbas, tão reverenciado entre os índios quanto o é Maomé entre os turcos - o qual lhes ensinou o uso do fogo e o do plantio das raízes. Até então alimentavam-se os selvagens exclusivamente de ervas e caças. os silvícolas guardavam esta pedra como um grande e precioso tesouro
(Singularidades da França Antártica, 1557 In: BELTRÃO, 1978).



           O acesso ao patrimônio cultural, através dos estudos e pesquisas documentais, procura incansavelmente responder aos questionamentos humanos sobre o passado, visando principalmente o conhecimento sobre nossas origens. Os sinais que nos ficam de herança de um tempo em que não vivenciamos, permitem o entendimento de nós mesmos e de quais sociedades precedemos.

             O sudeste do Piauí concentra um dos maiores acervos arqueológico do mundo, tanto que é um dos 16 sítios, dentre os patrimônios mundiais, exclusivos de arte rupestre, e o único até hoje no Brasil . Uma infinidade de vestígios arqueológicos, como os sítios de pinturas e gravuras rupestres pré-históricas, enterramentos, indústrias líticas e cerâmicas constitui tal acervo e provavelmente muitos ainda serão descobertos e estudados, devido à imensidão do território.


             Os sítios arqueológicos encontram-se na cuesta da Serra da Capivara, geologicamente formada por erosões que ao longo dos tempos esculpiram no cenário rochoso, grutas, cavernas, abrigos e fissuras que hoje abrigam os vestígios estudados.
(...)
              A avaliação do ICOMOS considerou que a Serra da Capivara é um excepcional testemunho das mais antigas populações humanas que povoaram a América do Sul, pois preserva os registros mais antigos de pintura rupestre do continente americano e, além disso, a iconografia dessas pinturas permite identificar elementos do cotidiano dos povos que habitaram a região. Em 1993, o PARNA é tombado pelo IPHAN, como Patrimônio Nacional, inscrito no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
(...)
             A lei 3.924 de 1961 que dispõe sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos ainda é bastante atual servindo, inclusive, de modelo para outros países. A Constituição Federal de 1988 nos seus artigos 215 e 216, expressamente considera os sítios arqueológicos como patrimônio cultural brasileiro e mais notadamente em seu artigo 20, os sítios são incluídos como bens patrimoniais da União.

Texto: Carolina Francisca Marchiori da Luz

Mestranda do Mestrado Profissional em Preservação de Patrimônio Cultural – IPHAN
Turma 2010 - 2012
Pesquisadora voluntária do Instituto Manoa em Piauí
Fotos: Carolina Francisca Marchiori da Luz



  
A foto da placa do IPHAN (Estevo I) é de um sitio localizado em área privada no entorno do PARNA. Foi cercado e identificado com a placa explicativa referente a proteção do patrimônio, em um projeto realizado no ano de 2005.


O sitio do Meio, é um dos 16 sítios preparados dentro do circuito turístico do PARNA, para receber visitantes portadores de  necessidades especiais.

 

     


 

Comentários

Anônimo disse…
Muito interessante! Belo trabalho! Indio

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